Humanidade…

No domingo ou segunda, não sei ao certo aquando da noticia dos fogos em Portugal, decidi escrever um post, mas à medida que o escrevia apercebi-me que seria apenas mais uma que opinava e que em vez de dar soluções falaria mais do mesmo, seria mais uma que se queixa que isto ou aquilo está mal. Por isso acabei por não o terminar e acabou por ficar em standby.

Agora que me sentei aqui em frente ao pc, decidi falar um pouco sobre a minha experiência como voluntária, e como toda esta situação me tem ampliado o ponto de vista, e se querem que vos diga, todos somos culpados, todos nós temos um Q de culpa em tudo o que acontece, apesar de ser-nos muito difícil admitir, e de aproveitarmo-nos sempre de oportunidades como estas para apontar o dedo aos outros, ou até mesmo para querer “jogar” alguns à fogueira…calma não é assim que iremos algum dia solucionar algo.

Aliás á anos que se fala no aquecimento global nas consequências e consequentemente nas suas carências…sim carências, acho que é a palavra ideal para definir o aquecimento global. (porque carências será algo que iremos cada vez mais vivenciar)

Porque por enquanto o que nos tem acontecido pelo menos neste lado de mundo, é um conflito de estações, ora é inverno pela manhã, verão à tarde, outono ao anoitecer e com sorte uma primavera pela madrugada…todos os anos nos queixamos se chove muito, todos os anos nos queixamos que está um calor que não se aguenta…todos os anos mais do mesmo.

Mas o que não estávamos habituados, era a ver tantos desastres naturais, tão consecutivos e muitos deles aqui tão perto…impressionamo-nos com as cheias que levam tudo, com os ventos fortes que destroem, e com fogos que nos roubam.

Mas não, não vim aqui falar mais sobre tudo aquilo que todos já sabemos, que todos nós já alguma vez partilhámos, e muitas vezes criticámos ou apontamos o dedo, quando em contra partida tínhamos outros 4 dedos apontados em nossa direcção .

Para muitos é estranho a forma de vida que levo, como sou capaz de cada vez mais abdicar de tudo e viver desta forma, sem um trabalho, sem uma casa, sem um carro, sem dinheiro, algumas vezes.

É normal que vos pareça estranho eu própria se à 4 , 5 anos atrás me dissessem que estaria a viver desta forma diria que estavam loucos, mas o que é certo é que neste preciso momento não haveria outro lugar no mundo onde quereria estar.

Estou a um mês e pouco de ir para o Malawi, se foi algo com que sempre sonhei, não estaria a mentir, mas se é algo que actualmente quero com todas as minhas forças sim, dinheiro algum no mundo me travaria ou desviaria deste caminho.

O dinheiro faz muita coisa, é verdade, o dinheiro ajuda muito, é verdade, mas cada vez perdemo-nos mais a nós, e  uns aos outros.

Antes de ir para o Malawi não sabia que era um dos povos mais pobres do mundo, antes de ir para África não sabia que é dos continentes mais ricos do mundo, antes de aqui chegar, não sabia que muita da pobreza gerada e provocada lá, se deve a nós, aqui deste lado que nos queixamos de tudo.

Não é novidade para ninguém que muitos dos povos africanos foram colonizados no passado, nós portugueses fomos uns dos colonizadores ( e quantos estragos fizemos meu deus).

É estranho que todos tenhamos como conhecimento comum, que a vida como ela se conhece teve inicio em África, e que depois esses mesmos povos, sejam actualmente muito pobres a nível Histórico, na escola são nos ensinadas mil e uma histórias sobre o mundo, sobre as suas culturas, mas parece que o guião de África ficou perdido lá atrás, talvez não haja muito interesse em que se saiba.

É estranho que muitos dos povos de lá, passem fome, quando são nas suas terras que são criados os frutos mais saborosos, que posteriormente são exportados para cá, é estranho que por exemplo no Malawi, 70% da produção agrícola é referente ao Tabaco, e que esse mesmo tabaco, que lhes tira a terra para os seus alimentos, seja a riqueza de muita burguesia.

Não me queria prolongar muito, nem divagar, mas acho que já o estou a fazer, mas isto tudo para vos dizer o quê…temos que ser mais conscientes, temos que tratar melhor o nosso meio envolvente, temos que olhar mais à volta.

Antes de vir para aqui, não sabia que a roupa que deitamos fora é um dos maiores problemas actuais, na medida em que  diariamente aumentamos os níveis de lixo no nosso planeta, e consequentemente  o seu aquecimento. Achamos o máximo ter roupa nova, achamos o máximo ter tudo bonitinho a combinar, achamos o máximo os preços maravilhosos a que estão as coisas, mas depois chocamo-nos quando vemos crianças a trabalhar, depois pomos o tal post no facebook a questionar que mundo é este, onde crianças não têm o que comer, onde crianças não podem ir à escola, onde crianças trabalham 10 horas por dia 7 dias por semana para te fazer a tal peça de roupa barata que tu achas o máximo…ainda acreditas que a culpa é só dos outros, ainda acreditas que a culpa é só dos grandes?!?!?!

Todos os dias compramos mais do que precisamos, todos os dias deitamos fora algo com a certeza que amanhã estará lá tudo outra vez…damos tudo como garantido a água que nos sai da torneira o interruptor que nos dá luz, o carro que nos leva aqui e ali…não estou aqui a questionar a vida de cada um ou a dar lições de moral de como a deveriam viver…mas o que é certo é que todos os dias estas coisas que para nós nos parecem pequenas, à escala mundial têm um impacto gigantesco.

Infelizmente a continuarmos assim os episódios de catástrofes e de pessoas que perdem tudo, inclusive a sua vida serão uma constante…chocamo-nos com os refugiados que atravessam os mares com o intuito de ter mais um dia de vida, e esquecemo-nos que mais uma vez a causa daquela guerra se deve a nós, porque infelizmente aquele povo tem a infelicidade de estar situado numa terra cheia de riqueza cheia de recursos, o petróleo (além de guerras religiosas sim também o sei, mas isso é outro assunto), o petróleo que todos lutam por controlar e dessa forma criar o seu jogo de monopólio, o intuito é sempre ter mais, dominar mais, nem que para isso se tenha que avassalar milhares de vidas.

É colocada muitas vezes a questão, porque vais ajudar os outros lá fora, quando aqui tão perto também há pessoas que precisam, é certo têm razão, talvez o que eu esteja a fazer não é ir ajudar os outros lá fora, mas sim ajudar-me a mim, aprender a ver a vida de outra forma, aprender com quem não têm ganância, mas sim a simples ânsia por mais um dia de vida, por mais um prato de comida, só por hoje vivi.

Ficamos sempre muito estupefactos quando vemos a alegria dos povos pobres, perguntamo-nos mas como conseguem ser tão felizes, mas porque estão sempre a rir, por isso mesmo, eles vivem um dia de cada vez, eles agradecem cada prato de comida que chega, eles vivem ao segundo, não há planos de futuro, é difícil ver mais além quando a única oportunidade que lhes demos foi essa.

É curioso que essas mesmas pessoas e esse mesmo povo são os primeiros a tirar da mesa deles para por na nossa, não importa o pouco que tenham o importante é receber bem quem veio por eles.

Houve um tempo em que também fomos assim, eu felizmente ainda vive esses tempos, onde as portas de casa estavam abertas, onde o vizinho tinha sempre algo para partilhar, onde vivíamos em comunidade, onde o bem do outro era o meu bem também.

Não sei se acabei por escrever o que pretendia ou não, mas sei que daqui a 1 mês e pouco terei lições diárias de vida, ensinamentos que espero virem a multiplicar-se, porque felizmente são cada vez mais as pessoas conscientes dos nossos problemas actuais, felizmente há cada vez mais pessoas sensibilizadas, que se preocupam com o nosso futuro, que decidiram juntar-se e tentar abrandar, ainda que pareça pouco, mas estamos a chegar a um ponto caótico, e não agora não me estou a referir ao aquecimento global, mas sim à perda da Humanidade que assistimos diariamente.

Queiram menos sejam mais.

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